sábado, 24 de dezembro de 2011

Vida Simples.

Meu avô tinha uma fazenda e nela tinha um peão chamado Chico. Um dia eu perguntei a ele: "Chico, quantas horas?" Ele olhou pro céu e disse "12:15". Corri o mais rápido que pude pra o relógio mais perto e (pra minha surpresa) eram praticamente a hora que Chico disse. Eu achei a pessoa mais inteligente do mundo. Hoje, eu continuo achando. Existem conhecimentos que não estão em bibliotecas e muito menos são ensinados em universidades. Os livros e filmes que você idolatra e faz questão de mostrar em todas as redes sociais, não te fazem mais inteligentes. Aliás, se você acha que é superior por ler tais livros, não entendeu nada do que é sabedoria. A Intelectualidade pode ser seu deus e a busca por ela pode ser seu vício, mas eu, prefiro ser igual ao Chico do que ter livros e títulos mofando na minha estante e o racionalismo secando meu coração.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

24 de Outubro.



O que é pois uma data?
Algo preso no tempo
Algum momento eternizado na história
A lembrança de um dia
Esquecido assim o sentido
Dando lugar da tradição cega, hereditária?

O que é pois um aniversário?
Algo para se comemorar
Lembrar de uniões e conquistas
Da indiferença e derrotas cálidas
Do descontentamento inerte
Da política inválida ?

Machando machando
Os dias passaram.
O que é pois um desfile
No meio do tumulto de sonhos que caíram
Atropelados e desmanchados
Entorpecidos, pelas armas e espingardas?

Devem achar bonito
O tiro, o silêncio, e o luto
As mesmas armas que mataram nossos tios
São as mesmas que desfilam na 24 de Outubro.

sábado, 1 de outubro de 2011

Eu olho pro céu.


Eu olho pro céu e vejo Você.
Eu olho pro céu. E sei que de lá vem meu socorro.
Eu olho pro céu e vejo a chuva a nascer. Seu cheiro e sua presença solta no ar. Então nesse momento sei que os céus realmente proclamam a Sua glória, e o firmamento anuncia as obras das Suas mãos.
É tudo tão grandioso. Mas suficientemente pequeno pra caber em cada gesto e olhar amigo ou aqui dentro do meu coração;
Eu olho pro céu e tenho tanto a agradecer a Ti. Eu tenho tanto a lhe falar. E sei que nisso eu vou falhar. Mas Seu amor ainda sim vai me constranger a tentar.
Parece-me tanta indelicadeza começar um texto pensando em Ti.  Parece que tudo que eu fizer ou disser, nenhuma ação ou emoção irá demonstrar tudo que Tu és pra mim.
Eu olho pro céu e quero voar. Continuo a sentir saudades de tudo aquilo que não vi. Planos que só o Senhor sabe e sonhou.
Eu olho pro céu e me sinto como todas essas palavras fossem pequenas demais. Que meu ser e minha existência, estão na infima parte de tudo que está pra acontecer.
Eu olho pro céu e sei que mesmo assim, o amor me cerca. Seu precioso amor. Seu imenso amor. Aquele capaz de dar a vida. De fazer e obstruir toda e qualquer corrente. Aquele que abre portas que não existiam. Que me chamou pra conversar tão amigável um dia. Tão glorioso dia que me encontrei com o Senhor.
Eu olho pro céu e meu maior desejo é estar ai. Meu desejo é estar ai. Todo meu ser tem saudades de estar ai.
E que eu possa ser plena aqui. Que eu possa ser digna de estar ai. Que eu possa desfrutar da plenitude da sua glória.Que minhas raízes sejam plantadas junto aos ribeiros de água.Que eu combata o bom combate e a missão que a mim foi proposta. Que tudo seja através de Você e Para você. Aquele que não negou seu próprio filho. Aquele fez de mim, uma solitária, habitar em família. Aquele que tirou meus pés da lama e os colocou numa rocha firme. Aquele que rasgou o véu e me deu graça sobre graça. À Você toda honra e toda Glória.
Enquanto eu viver, quero continuar olhando pro céu.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Dente-de-leão, meu querido amigo



Dente de leão,
O vento levou você
Cada dente teu
Ao seu bel prazer

Mergulhado na ínfima transitoriedade do tempo
Tão efêmero quanto uma bolha a flutuar
Cada dente teu se desprendeu
Sem contrato para voltar

Naufragado na solidão
Dos teus tão sombrios dias
Sem saber onde fora parar
O que te outrora pertencia

Despedaço-me então aos poucos
Junto contigo meu querido amigo
Meus pedaços estão soltos pelo ar
Meu ser já não pertence a nenhum lugar

sexta-feira, 29 de julho de 2011

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Então é isso? A vida é isso? Francamente, eu esperava muito mais. Eu corri atrás de todos aqueles diplomas pra isso? Caminhei, corri, me estressei. Peguei incontáveis ônibus, corri para chegar na hora. Bati meu ponto, corri por entre os carros pra chegar na hora. Tantos dribles nos horários, tanto stress e choros. Lágrimas que pareciam nunca secar. Tantos puxões de orelha por alguns centavos a mais na minha conta pra isso?

Esse é o fim? Estudei tantos capítulos. As palavras até se confundiam. Tantas cópias de livros, noites em claro. Cafés e olhos vermelhos pelo sono. Noites e noites em claro. A pressão do vestibular, o dinheiro gasto em tantos cursos, pós e mestrado. Pra chegar até aqui? Porque escrevi tanto? Entreguei tantos currículos? Porque fui guardando cada centavo numa poupança pra comprar aquele velho carro que eu tinha?

Onde estão as coisas que eu comprei? Pra que me serve meus relógios, sapatos nesse lugar? Acho que daqui ninguém vai ver minhas roupas de marca. Onde eu deixei meu apartamento que com tanto custo montei? Meus móveis, meus quadros, minha vida? Onde foi parar?  Porque passei minha vida inteira correndo atrás de tanta coisa, pra me restar apenas isso? Apenas essa terra sobre esse caixão.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Ponto de ônibus.

Passos em direção ao nada. Pés que não são mais guiados: são levados. Duas almas andarilhas presas ao corpo. Já sabiam o caminho de casa. Cambaleavam preambulantes. Rumo ao lugar comum de sempre.

Vida escorrendo. Liquido impalpável sobre as mãos. Sangue deixando de correr nas veias. Um ato quase lisérgico, ponto de bala, de partida, piloto automático. Sinal vermelho, mesmo sem sinal vital.

Olhos ardendo pelo cansaço. O dia passava devagar sob o sol que queimava sua pele. Era mais um dia. Azul como sempre. Nem preto, nem branco.Cinza. Escaldante pelo asfalto, pele e suor. As nuvens pairavaram na imensidão azul e não havia um vento que as empurrassem  Teimavam em ficar onde estavam, cambaleantes assim como eu. Nem mesmo a força de algum pensamento as empurravam. Sufocadas. Sufocantes.

Rádio ligado. Telefones. Mãos. Muitas mãos. Calejadas, tímidas. Que seguravam a bolsa. Aparava o suor. Pulsos que giravam para conferir as horas. Braços cruzados como escudos. Balançantes ou sufocados dentro do bolso. Carregando sacolas, balançando ao vento, segurando a criança.

Era mais um dia.
Era mais um dia.
Era mais um dia.
Era mais um dia.

Eras e eras dentro das horas. Num ir e vir infinito. Vidas flutuantes. Horas latejavam. O abrir e fechar de olhos. O calor e frieza dos esbarrões continuos e contidos. Vergonha, leve constrangimento. Olhares cansados e preocupados, indiferentes, tão distantes. Ônibus lotados de almas tão vazias.
Mentes alheias e exorbitantes no ponto de ônibus. Apenas um ponto. Ponto de intersecção. Chegamos juntos aquele ponto. Sob o mesmo ponto do tempo e do espaço.
No pensamento fugaz e vulgar de cada um. Na cabine secreta, na prisão de você. O sucumbir. A implosão do eu em silêncio.

Todos os dias.
Todos os dias.

I still haven’t found what I’m looking for...



I still haven’t found what I’m looking for...

Esses versos contínuos, de uma das musicas mais conhecidas da banda irlandesa U2, ecoavam e me desconfortavam toda vez que os escutava. Apesar da musica indagar sobre a busca de Deus nas coisas matérias e físicas desse mundo, e evidentemente sem sucesso..o compositor fala que conhece a Cristo. E isso me atormentava. O que você ainda procura Bono? Você é cristão, você já achou. O que ainda há pra se procurar? O que eu ainda procuro?
Existe um mito, grandessíssimo e consolidado de uma alegria interrupta e imaculada que o cristão tem. Passamos de uma vida pra outra e nessa outra vida seremos felizes, sem duvidas, inquietações ou anseios. Apesar de crer que temos consciência e gravamos bem as palavras de que “no mundo teremos aflições” ainda nos culpamos quando a complexidade e as divagações da vida vêem nos visitar. Não nos damos o direito de nos sentirmos tristes, de ter duvidas ou sentirmos alguma ausência, algo que nos falta.
Uma viajante sente saudades da sua terra Natal. A cidade que ele está pode conter tudo que ele precise: um bom lugar pra passear, amigos, sua família poderá vir visitá-lo todos finais de semana, mas há algo em nosso lar que o torna especial. Nós cristãos, como viajantes por entre esse mundo, temos o direito a essa tristeza, a essa saudade do nosso lar. Apesar de Cristo compartilhar sua glória conosco ainda na Terra, esperamos ansiosos pelo dia que teremos a plenitude da sua glória, quando o veremos face a face.

You broke the bonds and you loosed the chains(Você quebrou os laços, soltou as correntes)
You carried the cross (Você carregou a cruz)
And my shame (E a minha vergonha)
You know I believe it (Você sabe que eu acredito nisso)

But I still haven't found (Mas eu ainda não encontrei)
What I'm looking for (O que estou procurando)

Buscamos em tantas coisas pra suprir essa ausência e quando a achamos e percebemos que não há encontramos nesse mundo e a suprimos no conforto de Cristo e no seu amor, ainda sim temos essa linha de saudade e esperança que nos traz a uma inevitável e saudável melancolia. I still haven’t found what I’m looking for, é um grito, uma súplica. Que em algum momento já tivemos na nossa vida e que ainda temos. Procuramos tanto, buscamos e nos empenhamos. E essa efemeridade da vida, essa incessante busca por coisas fúteis, mas necessárias pra nossa sobrevivência na Terra..nos alcançam e nos deprimem.
Os versículos ilustram bem o que eu queria falar, e talvez não consegui dizer:

"Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia após dia, pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais que todos eles. Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno."
2Co.
"Porque agora vemos por espelho embaçado, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido." I Coríntios 13:12

Mais do que conhece-lo, vamos nos conhecer. Por enquanto, continuamos com essa busca, pelo sentido do nosso sentir, do que somos. Busca pela vida e tudo que ela carrega.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Resenha Crítica do filme Acidente (2006), por Karine do Prado

Sentimos desconforto profundo em um acidente. Nosso corpo nos dá os sinais. Não fomos acostumados com o inesperado, o acaso. Mas não seriam eles a substancia formadora da vida? Se é que realmente podem ser chamados de acasos.

Nossos olhos, sempre propensos a buscar o significado e o significante talvez fiquem perdidos em Acidente, filme de Cao Guimarães e Pablo Lobato. Procurar saber o porquê das escolhas feitas, talvez não seja a mais inteligente das perguntas. Não há uma razão. Há o aberto, há a imagem, há uma câmera e um mundo à frente dela. Há uma cidade e uma câmera ligada pronta a capturar o que vier e o que puder.

Acidente (2006) é um filme que já fez sua carreira entre os festivais de cinema. O dispositivo usado para iniciar o filme deu-se com a seleção (aleatória) de vinte nomes de cidades mineiras que juntas formaram o seguinte poema:

"Heliodora
Virgem da Lapa
Espera feliz
Jacinto Olhos d' água
Entre folhas, Ferros, Palma, Caldas
Vazante Passos
Pai Pedro Abre campo
Fervedouro Descoberto,
Tiros, Tombos, Planura
Águas Vermelhas
Dores de Campos"

O filme que caminha por entre essas 20 cidades, além de contar histórias com pedaços de vida em cada uma delas, os nomes formadores do poema si formam já outra história. Cria-se assim, duas narrativas distintas (ou não). A idéia era ir para as cidades sorteadas e deixar que a própria cidade desse o roteiro e sugerisse o que os diretores poderiam filmar. Não existe um roteiro. Não existe um assunto a priori. Existe o contato direto com a realidade e assim, somos empreguinados pelo jogo do acaso, com o acidental. A câmera esta ali de passagem, como uma visitante passageira que precisa ir embora. O exercício do reflexo ao chegar em um lugar novo começa com os diretores e passam pro expectador. Compartilhamos com ele suas percepções imediatas de cada cidade. A câmera em simbiose com a realidade.

O filme também brinca com os nomes das cidades. Em Espera Feliz foram filmados objetos inertes que aparentavam estar esperando alguém. Por exemplo, foi filmado um quadro torto, talvez à espera de alguém para colocá-lo no lugar. Em Entre folhas, a primeira imagem é composta de uma mulher varrendo folhas no chão. Faz assim brincar com a metalinguagem. Mesmo ao acaso, as ações podem coincidir. O filme brinca com o próprio acaso que lhe foi proposto.

Segundo Cao Guimarães, em Passos eles queriam fazer uma visão institucionalizada por ser a maior cidade. Quando chegaram à prefeitura não fizeram muita questão da filmagem. E é nessa hora que o acaso mais uma vez abraça o filme e surge uma cena inesperada. Ao ir à praça da cidade encontram um engraxate e eles se propõem a filmá-lo. E nesse momento ocorre algo maravilhoso; o engraxate começa a fazer uma interpretação de si mesmo, uma oração fervorosa contra uma mulher que queria lhe tomar seu cigarro. Faz-nos refletir no poder de influencia que um instrumento midiático tem na subjetivação das pessoas. Transformam-se quem é filmado em quem eles gostariam que fosse filmado. Um outro “eu”, o “eu” pros outros.

A contraposição do poema versus imagens registradas, faz-se questionar a construção já desgastada de tantas narrativas que se encontram no cinema tradicional. Não fomos acostumados a ser representados por imagens e talvez muito menos por recortes de imagens, já que não são filmados símbolos nem pontos turísticos. O retrato de cada cidade é feito com pessoas comuns, recortes de vidas e histórias. Longe de ser filmado os cartões postais, o que se procura é o banal, o cotidiano, as caricaturas, os bloquinhos de vida.

Enganam-se quem pense que a tradição literária é posta de lado. A construção do poema já a enaltece e os vínculos com os nomes são evidentemente presentes. Mas o que prioritariamente ocorre em Acidente é que somos bombardeados por uma chuva de impressões visuais. Cada uma de suas sequências desafia o olhar, e a audição. O filme é rico em jogos de luz, cores e texturas. Prova disso são as primeiras cenas filmadas mostram a cidade de Heliodara com suas silhuetas através dos raios provenientes da chuva. A iluminação precária, apenas com uma vela do primeiro depoimento. As várias texturas da água sobre superfícies, o movimentar de uma bola de plástico ao sabor do vento, entre tantas outras experiências estéticas do filme.

Tais experiências nos dão abertura para uma reflexão mais profunda do próprio conceito do que é um documentário. O desenho da luz na superfície da água é tema para um documentário? O reflexo de um senhor no balcão, as folhas, alguns cachorros brincando na rua, são temas de um documentário? O documentário talvez não seja a reprodução de uma ação, fato ou história, mas a produção de um particular modo de ver o mundo. Esse olhar desprovido de vínculos é a chave para a construção do filme.

A questão do tempo no filme é de igual modo rico. O tempo filmado alia-se ao tempo real do filme quando em Palma a câmera super-8 é posta para filmar uma ladeira de pessoas indo e vindo. Deixa-se assim fluir o que vier passar a frente. Essa plasticidade e beleza podem causar sensações distintas, mas principalmente nos remetem a questão da memória e documentação por ser um filme antigo. Conversa com cada um de nós fazendo-nos lembrar dos dias pacatos de nossa infância (principalmente quando acompanhamos um menino subindo a ladeira com o seu ‘carrinho’ que na verdade é uma garrafa). O tempo que parece ser indeterminado alia-se ao real provocando uma sensação cortante de realidade. É como se estivesse realmente vivendo juntos ao mesmo tempo. Expectador e imagem vivendo em um tempo só, mas distanciados pelo tempo de gravação e existência, remetendo a outrora pela qualidade e característica da imagem da super-8.

Acidente é um filme que sua essência é a duvida, a incerteza. Não apenas no fazer, mas no tratar das imagens. Há sempre uma penumbra, um desconhecido. Não sabemos quem é a senhora cujas mãos são filmadas segurando um bordado, mas não é mostrado seu rosto. Sempre há o não saber do que está acontecendo. A não significação talvez seja o grande significado do filme e nela está sua sensibilidade poética e estética, e nela sua abertura pra resignificicações. Eduardo Valente do site Cinética escreveu:

“Difícil saber se sua absurda simplicidade esconde a chave de sua profundidade, ou se sua enigmática opacidade joga fumaça sobre uma clareza absoluta – exatamente pela tendência natural de se buscar o encadeamento lógico, de se encontrar a chave de decifração das obras na sua estrutura narrativa ou na permanência do seu tracejar formal.”

Se considerarmos acidente o que se refere ao é efêmero, aparente, transitório; o que não afeta à substância, essência ou a coisa em si, podemos dizer que os diretores que acidentalmente foram em cada cidade, não alteraram suas formas acidentais. O acidental foi destrinchado e exposto, somente. Não cabe a nós saber se as coisas são assim por acidente ou se estavam lá acidentalmente, mas cabe a nós ver beleza e humanidade nelas. Talvez isso, foi o que mais rico e precioso que o filme (me) retratou. Ai está a riqueza: Pode significar (pra mim) tudo e ao mesmo tempo (pra você) nada. Os olhares que nos conduzem não são os mesmo, os olhares que assistem não são os mesmos. A pluralidade de histórias e recortes coincide com sua significação.

BIBLIOGRAFIA

Escrever Cinema. Textos e notas criticas de José Carlos Avelar. Acessado em 29 de março de 2011. <http://www.escrevercinema.com/Acidente.htm >.

Revista Cinética. Cinema e Critica. Acessado em 30 de março de 2011. cinetica.com.br

Resenha Crítica de Olhos de Ressaca

Olhos de ressaca é um belíssimo curta feito em 2009 dirigido por Petra Costa, produzido no Rio de Janeiro.

O curta de 20 minutos retrata a história de um casal que estão casados a sessenta anos: Vera e Gabriel. Os dois divagam como se conheceram, sua história e suas lembranças. Com o mesclar dos grandes close-ups,demonstração de detalhes e texturas remetentes a idade e velhice. O filme não só narra como nos passa as sensações do envelhecer. Há uma mescla de arquivos pessoais com o presente, tecendo assim um ambiente de sonho e memória.

Quando num mundo onde o melhor é ser “forever young”e ainda mais num pais onde o idoso é retratado com tanto descaso, a valorização da idade e da dignidade dessa melhor idade é digna de exaltação.

Gabriel por gostar de poesias,e pelas próprias palavras de Vera por ser mais emotivo, as recita de forma graciosa durante o filme. Mescla-se com sua própria historia e crenças. Faz uso de Machado de Assis ao falar que assim como Capitu, Vera também tinha olhos de ressaca que o capturavam ,o que no filme é incenssamente demostrado com a filmagem de ambos olhares. Demonstrando também momento físico do que é se apaixonar, o amor a primeira vista.

É claro a retratação durante todo o filme como os dois se amam e como esse amor foi construído. A impressão que se tem é que eles o preservam desde quando se conheceram, ainda muito jovens. O filme é um olhar de sonho sobre a vida, o amor, as realizações, os sentimentos e a construção da vida a dois. Quando terminamos de assisti-lo, nos aquece de esperança em saber que amores assim ainda são possíveis. E nos fazem sonhar com nossa própria construção de vida. Além desse olhar belíssimo ele nos dá um toque sobre o envelhecer dentro da certeza que com a idade os sentimentos tornam-se mais puros, verdadeiros e eternos. A história dos dois nos mostra que as vezes a vida se antecipa à poesia. O que resume o curta é o belíssimo trecho declamado por Gabriel de Machado de Assis que diz assim:

"Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios."

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Digam a todos que estão errados.


Digam a todos que estão errados. Que esse jeito que se divertem, não tem nada a ver com diversão. Que ficar exibindo um copo com alguma bebida na mão não te faz ser mais popular. Que beber muito não é sinal de ser livre. Que muitos amigos não significa não estar sozinho. Que os amigos em suas redes sociais não tem nada a ver com quem são seus amigos reais. Que os lugares que todos vão, não são os lugares melhores pra se ir. Que o que todo mundo faz, não é o melhor pra você. Que aquilo que todo mundo quer, não é o melhor a se querer. Que aquilo que você deseja tanto, não seja necessário e muito menos útil pra você.

Digam a todos que estão errados. Que para se realizar sonhos não é necessário pisar nos outros. Que sucesso na vida, não significa ter dinheiro e uma carreira. Que quando falamos que "estamos" bem, não significa que estamos "ganhando" bem. Que somos mais dignos quando alcançamos as expectativas dos outros e não as nossas. Que pra se ser feliz o dinheiro não conta. Que o que se leva da vida não é o que se tem, mas a quem se tem. Que para ser rico, é preciso deixar tudo. Que para ganhar, é preciso perder. Que para se ter, é preciso doar.

Digam a todos que estão errados. Que esse jeito individualista vai matar todos nós. Que pensar em si mesmo não é o mais importante. Que pensamento positivo nunca acabou com uma briga. Que uma revista não está certa sobre o que é bonito e o que é feio. Que para existir paz não é preciso da guerra. Que para tomar uma atitude não é preciso de outra. Que para se mudar não é preciso um empurrão. Que para ser bonita não é preciso ser magra. Que você não pode fazer nada para mudar o mundo.

sábado, 15 de janeiro de 2011

A gente se acostuma - Pr. José Campanhã

A gente se acostuma a ir à igreja e não ouvir Deus falar. E, por não ouvirmos Deus, fazemos besteiras à semana inteira, o mês inteiro, o ano inteiro. A gente se acostuma a ir a Escola Bíblica e não estudar a lição, e porque não estudamos a lição, também não prestamos atenção. E porque não prestamos atenção usamos o tempo para pensar nas coisas que não deu tempo de pensar na semana corrida que passou.
A gente se acostuma a chegar à igreja e só falar "oi" para as pessoas conhecidas. E, por que não falamos com as desconhecidas, nunca estabelecemos novos relacionamentos. E, porque não estabelecemos novos relacionamentos achamos as pessoas na igreja muito esquisitas. E, porque achamos alguns esquisitos, começamos a falar mal deles. E, porque falamos mal deles, um dia aquele desconhecido vai para outra igreja por que não conseguiu se entrosar conosco.
A gente se acostuma a cantar no coro ou no culto. E, porque a gente se acostuma a cantar, não pensamos mais na letra. E, porque não pensamos mais na letra cantamos até heresia sem achar ruim. A gente se acostuma a tocar instrumento na igreja e, porque a gente se acostuma a tocar ficamos mais preocupados em não errar do que em adorar. E, porque a gente se acostuma a não errar o brilho de tocar perde a graça, e passamos a penas a mexer no instrumento para sair som.
A gente se acostuma com o sermão do pastor. E, porque na gente acostuma com o sermão não faz diferença se na hora do apelo estamos orando ou cochilando. A gente se acostuma a entrar na fila para cumprimentar o pastor, mais é só para ter certeza que ele nos viu na igreja. A gente se acostuma a sentar no mesmo lugar no templo, a entrar e sair pela mesma porta, a estacionar o carro no mesmo lugar. A gente se acostuma a ficar irritado quando um visitante senta em nosso lugar.
A gente se acostuma a carregar a Bíblia. A gente se acostuma a não compartilhar a fé sem que isso cause qualquer incomodo. A gente se acostuma a comer um pedacinho de pão e a tomar um copinho de suco de uma uva uma vez por mês na igreja, e já nem se lembra mais por que precisamos fazer isso sempre. A gente se acostuma a ver umas pessoas serem mergulhadas pelo pastor de vez em quando, numa piscina grande atrás do púlpito e fica torcendo para alguém ter alguma gafe, pra ter histórias engraçadas para contar depois. A gente se acostuma a ouvir fofocas e não exortar o irmão.
A gente se acostuma a orar.E, por que a gente se acostuma a orar nossas orações deixam de ser orações, elas deixam de produzir efeitos em nossas vidas. E, porque a oração e a Bíblia já não tem mais poder sobre nós, nenhum milagre acontece, a igreja parece um clube e o sermão parece uma palestra chata. E nos acostumamos a ser crentes.
A gente se acostuma a ser crentes. E, porque a gente se acostuma a ser crente fica mais fácil deixar a vida passar. A gente se acostuma a entrar em enrascadas, mas é só chamar o pastor. Se ficar doente e for para o hospital, o pastor vai lá orar. No dia do aniversário tem festa surpresa, Casamento, bodas e funeral, não precisamos pagar nada. Da pra fazer turismo em outras cidades e não pagar hotel, ficando na casa dos irmãos. Sempre tem alguma festa na igreja e dá pra economizar uma refeição em casa. Se ficar desempregado é só pedir ajuda que os irmãos arrumam outro emprego.
A gente se acostuma a ser crente, mas Deus não se acostuma com isso. E, porque Deus não se acostuma com o fato da gente ser crente, é que da pra der esperança de pedir a Ele um avivamento para sair dessa vidinha de costumes. E, porque é possível que deus mande um avivamento é que a gente não se deve acostumar com a oração, mais tornar a nossa vida um vida de oração. E também não se acostumar com a Bíblia, coma igreja, como os sermões, com os estudos e com aquilo que vem do céu.
Nós temos costumes e nos acostumamos com eles. Deus tem ações e quando permitimos a Ele agir em nossas vidas, não dá pra se acostumar com isso.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Indiferença.

Talvez o erro, o algo que mais causa a destruição de um ser humano é a indiferença. Talvez indiferença nem esteja nos parâmetros de ser um sentimento, pois nela mesma cabe o não sentir, ela é o próprio não estar. Ser indiferente. Tanto faz. Não me atinge. Não ligo. Não me causa nada.
Talvez a indiferença seja o oposto de ser "ser humano". Uma bactéria, um cachorro vive sua vida, mas é indiferente ao que acontece com o próximo, ao que acontece ao percurso da história.
Talvez indiferença seja o contrário de amor.
Amar é dar a vida por outro. É partilhar, se preocupar e resignação, é amar. Impossível até de definir. Talvez a maior definição esteja em uma pessoa. Na pessoa de Jesus Cristo, que por amar tanto o mundo, eu e você, morreu. Por amor, fez-nos totalmente livres, nos deu vida para que pudéssemos realmente viver.
O que eu me pergunto é que você pode olha-lo sem acreditar, mas ai..você vai ser mais um indiferente.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Siga-me



Bom, não podia deixar de ter um espaço para falar do Siga-me. Segue o texto que escrevi falando um pouco sobre ele:

Por que Siga-me?

"Então, disse Jesus aos seus discipulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-me" Mt 16:24

O pedido é simples: Siga-me. Vamos juntos. Nessa estrada que nem todos conhecem, mas que temos grandes pistas. Siga-me. Assim como Jesus pediu aos seus discípulos: Siga-me. Todavia, não descartamos o que antes vem a esse pedido: Toma tua cruz.
Agora, porém, o pedido que parecia simples, implica em algo mais difícil que o ser humano possa suportar: Tomar sua cruz. E talvez a mais ultrajante dos pedidos: Renunciar a si mesmo.
A cruz aqui presente não é a mesma cruz de madeira e material que Jesus Cristo tomou por nós. A cruz é a responsabilidade e aperfeiçoamento que a própria cruz de Cristo tem sob aqueles em quem nela acreditam. Não é um fardo, é submissão. Não é culpa, é libertação. Não é ansiedade, é descanso. Sabendo o quão difícil era tomar aquela cruz de madeira, Jesus outrora já o fez. Sabendo quão difícil era tomar essa cruz de responsabilidade, agora colocou em nossas vidas o que chamamos de amizade: a maior renuncia que outro pode dedicar a outrem.
Queremos que você caminhe junto conosco, pois acreditamos que essa caminhada é a única e ultima caminhada que o ser humano pode fazer. Queremos que você trilhe essa jornada confiante de que somos seres humanos cheios de dúvidas, mas completos na vontade de lutar, conhecer e não ceder. Queremos que você nos siga para que outros possam seguir também, e assim, unirmos forças em prol do amor, da amizade e da resignação.
Mesmo essas palavras não fazerem muito sentido pra você: Siga-me. Você não ira se arrepender.

Quem somos?


Uma comunidade de pessoas imperfeitas, mas perfeitamente apaixonadas pelo convite de Jesus de Nazaré. É gente com problemas de gente que foi surpreendida pelo evangelho da graça. Queremos saber quem foi Jesus, o que ele fez e achamos muito aceitável o desejo de ser parecido com ele.
Nos reunimos para descobrir sobre Jesus e Deus em nossa faculdade, não temos medo da dúvida, ou do questionamento, acreditamos que o verdadeiro amor nos esvazia do medo; e não temos medo de levar Jesus para dentro na nossa universidade e por onde formos. Cremos que ele é parte do que somos, e mais; queremos ser parte do que ele é.
Confira:


http://www.twitter.com/sigameufg

Por que?

Por que você usa essas roupas e age assim? Por que você faz escola? Por que tanto estuda? Aonde quer chegar? Por que corre tanto atrás desses sonhos que impuseram a você? Por que tanto chora, por não superar as expecitativas de quem te vê?

Por que o olhar cansado e sem expressão? Por que a falta de objetivos e de razão? Por que você faz o curso que faz? Por que você crê no que crê? Por que você acha errado olhar pra trás? Se pra frente já existem planos traçados pelos seus pais pra você?

Por que você quer comprar aquela roupa? Por que você quer ir nesse lugar? Será que seus amigos são verdadeiros? Será que eles assim como é, iriam te amar? Por que o medo de sentir? Por que o desejo de fingir? Por que o medo de chorar? Pra que todos te vejam sempre a sorrir?

Por que o medo de ousar? Por que se importar com que os outros irão falar? Por que pensa em desistir? Se é você e só você que pode conseguir? Por que o calar enquanto se pode falar? Por que perguntar se é você que tem as respostas? Por que se omitir mesmo diante do sofrimento de quem mais se gosta?

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Sou tudo o aberto seu Alberto da esquina sou sorriso e dentes e entrelinhas águias ardentes que vooam dentro de mim que sobre pelo chão como passarinhos.Sou asa abertura vou e queda naufrago viagem e mundo. Sou show com gritos sou o silencio dentro do aquário sou o vírgula da frase que movimenta e se esbarra nos trilhos do trem viajando por entre os cata-ventos da emoção. Sou o escancaro mais fechado o dia frio mais quente, o vinho no fundo do copo que você deixou, sou o chá que já esfriou sou o caldo borbulhante intrigante queimando guela abaixo. Sou espada afiada sou moeda que gira no ar e para na mão do ancião e que compra a bala do menino. Sou a bicicleta que sobre os ladrilhos tortuosos mas que levanta as mãos na ladeira. Que fecha os olhos pra não saber onde se pisa mas que tem medo de atravessar a rua. Sou a bebada equilibrista sou o pedinte da rua o andarilho sem sapatos. Sou a mulher caduca no ponto de ônibus sou a louca que ninguém visita sou a moçinha na janela. Sou a sensação do pano sendo rasgado, sou o entulho empilhado na sala de jantar. Sou a palavra que veio em minha boca não falada, sou o sentimento escondido sou o olhar a busca o relance o palmo da mão. Sou contato sou distância. Sou o poeta, o sonhador sou o cabloco do mato o índio vestido para a chuva. Sou a cigana de saia olhando pro céu. Sou o telefonema não atendido a oportunidade travada o arrependimento e o medo. Sou minha mãe meu pai minha amiga, minhas plantas. Sou a lágrima no rosto de quem se ama no rosto de quem sorri ao ver um milagre. Sou a alma da viúva e da órfã da noiva e da futura mãe. Sou de quem puder mas não de quem quiser. Sou pra se sentir por inteiro, sou pra mergulhar, naufragar, pra soltar e deixar ir. Eu por completo eu fluindo e preenchendo esvaindo incompreensível e irredutível. Sou liquido e sólido. Sou. Sou mais que estou. EU.Duas letras, duas,divida, pra mim e pros outros, pra mim e pra Deus, pra mim e pra você.Sou eu, pra ser só. Só eu. Só e eu.

Era uma tarde de outono úmida e quente. O parque estava deserto, contando com algumas poucas pombinhas no chão.Embora não quizesse estar ali, segurar aquela pequena mão e olhar aqueles olhos brilhando a convencia completamente.

- Mãe, eu quero ir na Roda- Gigante.

- Mas filha, você não pode. O que nós conversamos lá em casa? É muito alto pra você. Tem tantos outros brinquedos…

- Mas mãe, o único que eu quero ir é a Roda-Gigante.

-Por que justamente a Roda-Gigante?

Seus olhinhos cor de jabuticaba se elevaram estantaneamente até o céu. Capitando cada pedacinho do brinquedo ao subir o olhar.

- Mãe - fez uma pausa - acho que eu gosto dela porque lá de cima eu me sinto mais perto de casa.

Vidas.

A moça espera o rapaz. A mulher molha a grama. A mãe carrega a filha. A madrugada segue fria, pra quem já não se importa mais.

O açogueiro faz seu trabalho. O rapaz da moto para ao lado. O homem apressado com vidros fechados, diz ao pedinte esfomeado que já não tem lhe resta um trocado.

A mulher dedica ao rapaz um beijo. Ele desconsertado sai com sua bicleta. Anda distraído por entre os carros. E o homem apressado lhe atropela.

A mãe tampa os olhos da menina. Ao açogueiro o sangue não lhe faz mais espanto. A moçinha debruça aos prantos. E a polícia impõe ao pobre rapaz, um perpétuo preto manto.

Segue as vidas desse segundo imenso. Desse ir e vir efemêro e eterno. Cada um carregando em si uma vida inteira. Fazendo as linhas da conhecidência trançarem com as do acaso. Caminha-se então nesse caminho misterioso e tortuoso, estreita-se a breve ponte entre a minha e a sua vida. Basta apenas um segundo pra nos perguntarmos: quando começa a sua? E onde termina a minha?

O que você mais gosta de fazer?

Você gosta de sair? Estar entre amigos? Gosta de momentos marcantes? Vou lhes dizer, embora seja enfadonho e desgastante para vosso precioso tempo, o que realmente gosto de fazer.

Gosto de deitar na cama e por sonhar acordada, meus lábios se movimentarem em uma palestra criada somente pela minha imaginação.

Gosto de cantar e cantando, esquecer que as pessoas podem me ouvir.

Gosto de parar por um segundo e pensar no próprio pensar e assim pensando, me sentir completamente humana.

Gosto de olhar para o espelho e não me reconhecer. Ou me reconhecer de tal modo, até não agüentar tudo aquilo que sou. Pois olhando pro espelho, não há como fugir. Sou eu, apenas eu, de frente pra mim. É nessa hora que percebo em quem venho me transformando e tudo que passei.

Gosto de ouvir meus pais conversarem e assim, poder refletir como eu tenho mais deles do que eu poderia perceber e consentir.

Gosto de congelar imagens e momentos. Fazer com que eles se tornem imponderáveis na minha memória. Para que cada fio, cada emoção, cada cheiro e sentimento sejam eternizados. Para que eu possa voltar sempre, mesmo que a banalidade do momento e a relevância não sejam plausíveis pra um olhar de alguém visto de fora.

Gosto de transformar a noção do tempo e espaço, fazendo com que a sensação mais simples dure horas e fazer então, o mundo girar mais devagar.

Gosto de respirar e sentir o ar entrando e preenchendo todos os cantos possíveis de mim, sentir o sol no meu rosto e com esse calor me acordar e me chamar pra viver.

Gosto dos milésimos segundos antes de dormir, quando caem minhas máscaras e minhas fugas. Pois é nesse momento que planejo pequenas mudanças para o dia seguinte, pra semana que vem, pro novo ano que chegará.

Gosto de escutar uma música e me indagar como todos aqueles timbres e arranjos se unem todos para expressar exatamente aquilo que nunca conseguiria falar.

Gosto de arranhar qualquer instrumento musical na mais vil tentativa de tirar de cada nota o som que meu silêncio e razão insistem em calar. Como se cada nota fizesse parte da construção da minha alma. Alma que nem eu mesmo posso entender.

Gosto de escrever na esperança de que meus pensamentos tão embaraçados se organizem em uma maneira mágica para que eu mesma possa me entender. E essa é, talvez, a mais fracassada das tentativas.

Gosto de ler o que eu escrevi, para mergulhar na mais profunda nostalgia, pra sempre me lembrar de quem eu fui e de quem eu sou. Pra ler e reler e ver as mais simples angustias assolando uma mente tão dramática. Pra olhar e se deliciar com as preocupações tão bobas que compartilhei e então rir de mim mesma. E essa é a única boa risada que existe.

Os invisíveis


Eles são extremamente educados. O jeito que foi acolhida e tratada me deixou várias vezes no dia de hoje, sem graça, sem saber explicar. Eles são extremamente limpos, posso sentir o cheiro do perfurme dos vários abraços que recebi ainda impregnada em minha roupa.Eles não roubam, acho que essa é a pior calunia e pior injustiça contra eles. “Nós queremos paz, queremos integrar na sociedade” é o único pedido que ouvi hoje dos vários ciganos que conheci.

Eles moram em barracas, são como os passarinhos. Voam de lugar em lugar. Queria ter essa simplicidade de espirito e me importar menos com minhas fultilidades. Um senhor, que mal sabe escrever seu nome, me ensinou uma das maiores lições da minha vida. Chamou-me a atenção e começou a falar: ” Você prefere comer um prato de feijão com farinha bem devagar, ou comer um prato de carne muito rápido? Pois bem, é assim que nós vivemos nós comemos feijão”. Mal sabia ele que, naquele momento, ele pos em cheque milhares de valores meus. Acho que mais que ninguém eu tenho que aprender a valorizar cada grão de feijão.

Uma mulher, a mais recepitiva que conheci na minha vida, me falou que várias pessoas passam e chamam eles de sem terra. Ora, “podem falar o que quiserem da gente, mas nós compramos o que é nosso”. E você achando que os ciganos sempre viviam de invasão não é? Eu também achava isso. Alias, nunca parei muito para pensar sobre eles. E quem já parou? São tantas coisas pra pensar, tantos planos, tantas festas, tantos amigos. Em questões métricas, não andei muito do centro da cidade pra chegar onde eles estão, mas tenho certeza que andei quilometros e quilometros da distancia social em que nos encontramos.

A verdade é que temos tudo, tudo. Não fazemos ideia do quanto somos abençoados todos os dias. O sonho de muitos ali é ter água encanada, uma luz elétrica, um lugar pra se protejer do frio é escrever pelo menos o nome. Você já agradeceu por isso? Por saber ler o seu nome, por ter um nome?

Hoje eu revi todos os meus conceitos, conheci pessoas tão invisiveis à sociedade, mas que foram extremamente reais pra mim. Uma experiencia que todos deveriam ter. Só conhecendo uma dessas pessoas invisíveis para você se tornal uma pessoa cada vez mais real.

“O que te impressiona?”.

No mundo onde a exeção tornou-se regra, no mundo do exagero e do caos das infinas colisões de informações, onde tudo é tão normal, onde tudo já foi feito e inventado, me deparei com a seguinte pergunta feita em um site de relacionamento: “O que te impressiona?”.

Vou dizer-lhes o que me impressiona:

O que mais me impressiona são pessoas com capacidade de perdoar, mesmo que não fossem delas a culpa. Com capacidade de se superar e com atitude de fazer o que poucos querem fazer. Pessoas que erguem bandeiras e lutam por aquilo que acreditam. Pessoas que se doam as amizades e as causas consideradas totalmente perdidas. Pessoas com capacidade de reflexão e insubordinação ao que todos fazem, ao que todos pensam. Pessoas que dão o primeiro passo sem medo de se machucarem. Que veem beleza nas coisas mais simples, tornado-as inspirações pras mais belas poesias da vida real. Isso sim me impressiona.

Constantemente e insistentemente passa-se pela minha cabeça pensamentos tão repetitivos que tenho que expor- los. O primeiro pensamento veem em minha cabeça em forma de pergunta: Por que eu sou assim? Será que só eu sou assim?. Sei que para qualquer adolescente essa pergunta soaria como uma crise existencialista ou de pertencimento. O mais incrivel é que já passei dessa época e não é por falta de tentar conhecer todas as pessoas e quem sabe fazer um falso julgamento e infundadas conclusões. Tenho observado isso precisamente a 20 anos. Existe em mim uma preocupação, um envolvimento com causas que todos julgam perdidas, sentimentos que as pessoas esqueceram. Não me vejo em ninguém.

O que me entristece profundamente é conformidade incrível das pessoas.Ao nascer todo ser humano tem a capacidade de ser o que quiser, essa esperança é massacrada todos os dias. Há um prazer em ser igual. Até mesmo o diferente e “subversivo” é imposto e seguido a risca. As pessoas simplesmente não estão nem ai. Nem pra aquilo que elas acham mais importante em suas vidas. Não se erguem mais bandeiras.

Não pense que estou a procura de algo que me complete.Não é uma questão de pertencimento. É uma questão de esperança. Será que não existe mais ninguém assim? Com sensibilidade ao menos para pensar nessas coisas? É duro e dificil falar tais termos, mas por enquanto e o que me resta é procurar alguma exceção. Uma exceção é o que eu procuro não pra mim, mas pra humanidade.

Quando Deus chama seu servo.

Texto escrito 10 de fevereiro de 2010

Todos nós já passamos, convivemos, caminhamos, vimos e vivenciamos a morte. Para os cristãos, a morte significa um começo de uma vida eterna na presença de Deus. Mas e para nós, que ficamos? Resta saudade, lágrimas incontáveis, lembranças, o sentimento de poder ter feito mais e a tristeza de ver a falta impossível de ser preenchida. Não sou uma pessoa conformista e sinceramente, a ideia da morte de um parente querido em detrimento a essa grande promessa de Deus não gera em mim conformidade, mas sujeição e paz.

No meio de tantas palavras de consolo e abraços do dia de hoje, Deus me mostrou a história de Enoque. “Ele sempre viveu em comunhão com Deus e um dia desapareceu, pois Deus o levou.” Gn 5:22

Já pensou em viver tanto na presença de Deus, que simplesmente é levado pelo próprio Deus, sem sofrimento, sem dor? Foi assim com Enoque e foi assim com o meu avô. Dois servos. Dois filhos amados do Senhor.

"A vida é como se me batessem com ela" (Fernando Pessoa)

Ela realmente queria alguém neste mundo capaz de entende-la. Compreende-la sem falsos julgamentos. Olhar realmente a silhueta de sua alma e entender seus motivos.Queria um mundo mais justo.Utopias e devaneios.Sua quimera eram grandes de mais para simples mentes carnais pudessem conceber.Soaria infantilidade, inocência, falsa esperança: loucura.Ela sentia o peso, entenda, todos os pesos de cada relacionamento que possuía.Tal pressão e expectativa que ela mesmo deduzia recair sobre ela, a tornava ao mesmo tempo encantadora e frágil. Isso a sufocava de tal maneira que podia sentir o sustentáculo de cada possível decepção acumular entre seu peito e seu pulmão.

Agarrava-se em cada fio, em cada pedaço de si. Ocupava-se cada canto seu, cada memória sua e resguardada em cada sentimento seu para evitar decepções e entregas.E para nunca se esquecer de quem realmente era.Entretanto, muitas vezes e infelizmente se esquecia.

Andando no meio de lugares em que não pertencia, vendo coisas que não queria acreditar, continuava a brilhar mesmo em meio a tanta crueldade. Ela continuava a correr, mesmo querendo parar.A vida precisava mais dela do que ela precisava da vida, pois era como se a própria vida a batesse com ela.

Karine do Prado

Querido Leitor (se é que você realmente existe),

Peço-lhe perdão por estas linhas mal traçadas. Por esse português torto e por essas concordâncias desencontradas. Eu, Karine do Prado, é quem vos escreve nesse espaço cibernético de relevância duvidosa. Por favor, peço-lhe minhas sinceras desculpas e compaixão pela alma dessa escritora fajuta.

O que vocês leram aqui não chegará ao ponto de ser interessante ou lhes causará emoções mais for tes. Não lhes direi o que realmente leram aqui. Deixo-lhes a certeza de que a vida aqui retratada é uma vida pacata para os olhos humanos. Com o desejo de fazer algo estritamente para fins textuais e para escrever sobre assuntos pessoais e diversos, para esse fim que este blog foi criado. Decidi migrar os textos do meu tumblr (http://karinedoprado.tumblr.com/) e deixa-los todos aqui.

Eu suma, o que será escrito aqui é um delírio para aqueles que não conseguem enxergar além do que se pode ver. É loucura para os homens, mas sei que é sabedoria para Deus.