quarta-feira, 30 de março de 2011

Resenha Crítica de Olhos de Ressaca

Olhos de ressaca é um belíssimo curta feito em 2009 dirigido por Petra Costa, produzido no Rio de Janeiro.

O curta de 20 minutos retrata a história de um casal que estão casados a sessenta anos: Vera e Gabriel. Os dois divagam como se conheceram, sua história e suas lembranças. Com o mesclar dos grandes close-ups,demonstração de detalhes e texturas remetentes a idade e velhice. O filme não só narra como nos passa as sensações do envelhecer. Há uma mescla de arquivos pessoais com o presente, tecendo assim um ambiente de sonho e memória.

Quando num mundo onde o melhor é ser “forever young”e ainda mais num pais onde o idoso é retratado com tanto descaso, a valorização da idade e da dignidade dessa melhor idade é digna de exaltação.

Gabriel por gostar de poesias,e pelas próprias palavras de Vera por ser mais emotivo, as recita de forma graciosa durante o filme. Mescla-se com sua própria historia e crenças. Faz uso de Machado de Assis ao falar que assim como Capitu, Vera também tinha olhos de ressaca que o capturavam ,o que no filme é incenssamente demostrado com a filmagem de ambos olhares. Demonstrando também momento físico do que é se apaixonar, o amor a primeira vista.

É claro a retratação durante todo o filme como os dois se amam e como esse amor foi construído. A impressão que se tem é que eles o preservam desde quando se conheceram, ainda muito jovens. O filme é um olhar de sonho sobre a vida, o amor, as realizações, os sentimentos e a construção da vida a dois. Quando terminamos de assisti-lo, nos aquece de esperança em saber que amores assim ainda são possíveis. E nos fazem sonhar com nossa própria construção de vida. Além desse olhar belíssimo ele nos dá um toque sobre o envelhecer dentro da certeza que com a idade os sentimentos tornam-se mais puros, verdadeiros e eternos. A história dos dois nos mostra que as vezes a vida se antecipa à poesia. O que resume o curta é o belíssimo trecho declamado por Gabriel de Machado de Assis que diz assim:

"Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios."

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